Caso de polícia
Laerte diz ter perdido livro inédito com material roubado de sua casa
Obra não-publicada seria coletânea de material do cartunista desde 2004.
Casa do artista foi roubada na terça (1º); dois computadores foram levados.
Campanha virtual pede que obras de Laerte não sejam deletadas de computadores roubados (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal) |
Uma das maiores perdas para o artista foi um livro inédito, que ele estava preparando para ser publicado em breve. "Havia uma coletânea que eu estava montando do meu trabalho mais recente, de 2004 para cá", diz Laerte. O trabalho, que ainda não tinha nome, ficou "bem comprometido". "Tenho um entendimento com a Companhia das Letras [para publicar], mas estava tudo no ar. A gente tinha o propósito de fazer o livro com esse material [que foi roubado]."
O cartunista ressalta não ter backup dos arquivos perdidos. A grande maioria são ilustrações e tiras publicadas desde 2000. "Eu estava fazendo o backup, mas esse 'armazém geral' era no HD externo, que foi levado junto", diz Laerte. "Não levaram o monitor, o teclado, o mouse, não levaram CDs nem DVDs", ressalta. Ele afirma que uma pequena parte do seu material de trabalho está em CDs e poderia ser recuperado, se "as mídias não fossem antigas e não estivessem danificadas".
O quadrinista não acredita que os criminosos irão devolver o conteúdo dos computadores, mesmo com a campanha. "Ele [o bandido] estaria se expondo ao devolver, não acho que faria isso. Se chegasse até mim uma proposta de comprar meu acervo, acho que procuraria a polícia", afirma.
Recuperar o material será difícil, de acordo com Laerte. "Eu vou atrás do que existe por aí de arquivo nos jornais, em editoras. Vai ser um trabalho de formiguinha, vou ter que contar com a sorte e a tecnologia", diz. Além dos computadores, pouca coisa foi roubada da casa, que fica no Rio Pequeno, na Zona Oeste de São Paulo. "Meus equipamentos eletrônicos são todos velhos, esse telefone deve ter uns 50 anos", ri o artista. "Não levaram minha televisão. Levaram um microondas de quase 12 anos, um grill e dois botijões de gás."
Algumas medidas de segurança estão sendo tomadas por Laerte após o crime. "Tem uma corrente de bicicleta que coloquei no portão. Talvez eu bote uma trava na parte debaixo da porta, para não facilitar para o bandido", diz. São poucas as prevenções, diz o cartunista, poque não existe segurança em São Paulo. "Quanto mais você se blinda, mais qualifica o ataque. O sujeito que chegar a você se você tem alarme em casa é o mais qualificado de todos", diz.
Recuperar material roubado será difícil e não há backup, diz Laerte (Foto: Reprodução/TV Globo) |
A porta do imóvel foi destruída pelo arrombamento, segundo Laerte, que mora sozinho. "Não havia ninguém na casa, só as minhas duas gatas. Uma delas é paraplégica, ela fica presa na cozinha quando viajo. Quando voltei, encontrei as duas na calçada".
Violado
A sensação de ter a casa roubada é a de ter a vida violada, segundo Laerte. "O sumiço dos arquivos é parte do problema. Outra parte é revirarem suas gavetas. Estava tudo no chão. Móveis, roupas. Você vê sua intimidade devassada. É uma coisa que desestabiliza", diz o cartunista. Para ele, toda vítima de roubo em casa deve ter uma sensação similar. "Você se sente invadido, é um caldeirão de sentimentos", completa.
Laerte registrou um boletim de ocorrência no 93º Distrito Policial, no Jaguaré. Para ele, não há expectativa de que a polícia recupere os computadores e os arquivos. "Os policiais foram muito gentis, fazendo o trabalho deles, mas é difícil. Tem um problema estrutural da polícia, que é desaparelhada", lamenta.
O cartunista quer que, além do seu caso, a campanha virtual a seu favor inclua os objetos retirados de moradores de rua da Praça da Sé, em ações realizadas por agentes públicos. "Eu fico comovido com o movimento de solidariedade, e gostaria que, além de mim, ele fosse estendido a eles [moradores de rua]. Os bens deles muitas vezes são a única coisa que tem, significam a sua própria vida, e para o poder público eles são lixo", critica.
Laerte diz, em um apelo, que as obras furtadas em seus computadores não tem valor de venda. "O material roubado não tem valor para ninguém. Ninguém seria louco de publicar, pode ser processado e identificado [como criminoso]. O único valor é para mim, são meus materiais de trabalho."
Pobre Laerte
ResponderExcluiresse aí é muito doido